sexta-feira, 22 de abril de 2011

Hoy exquisita fanesca

Depois de Manaus, peguei um barco até Tabatinga, uma cidade brasileira que faz fronteira com a Colômbia, de um lado Tabatinga e do outro a colombiana Letícia, as cidades sobrevivem do turismo da Amazônia, a maioria dos turistas são mochileiros porque as cidades não tem estrutura para receber turistas mais exigentes, são cidades fronteiriças típicas, meio terra de ninguém, meio terra de todo mundo. De Letícia voei até Bogotá, capital da Colômbia, fria e cheirosa, mas essa é história para outro post. De Bogotá 25 horas de viagem para uma das cidades mais bonitas que já vi, com ruas históricas, prédios modernos e banhada pelo mar do caribe, Cartagena, sua energia faz parecer que sua existência basta, e que não precisamos de mais nada do resto do mundo e a cidade tem uma personalidade própria. De Cartagena voei até Cali, cidade industrial sem muito charme, passei o dia lá e peguei um ônibus de noite com destino a Quito, capital do Equador, e é dessa que eu vou contar hoje.
Viernes Santo, assim que chamam a sexta-feira Santa, uma data importante em todos os países católicos, principalmente os latino americanos, e com a ideia de sacrifício os costumes culinários mudam. O sacrifício para o paladar seria o de não comer carne, então para nós brasileiros é dia de bacalhau (e que sacrifício!), para os equatorianos o sacrifício de viernes santo também é o oposto do que deveria ser, uma sopa quentinha com vários tubérculos (as mais diversas batatas da região) e vários tipos de favas, um pedaço de queijo, ovo cozido e peixe(normalmente corvina),  o nome dessa divindade é fanesca.
Eu caí aqui felizmente na semana santa experimentei não só esse prato típico, mas a experiência do ritual da sexta feira santa em Quito. A cidade se prepara desde cedo para assistir a procissão, que começa na Igreja de São Francisco e percorre o centro histórico durante 3 horas até voltar para o ponto inicial, famílias, jovens, senhores, devotos e turistas se acomodam nos melhores lugares na rua que passará a procissão. Isso porque a procissão não é apenas pessoas fazendo penitências, aqui ela é teatral, com vários “Cristos” segurando cruzes, los cucuruchos, homens com capuzes fazendo penitência, andando e alguns até se autoflagelando, e senhores enchendo as ruas com música saindo de seus instrumentos de sopro. Então os devotos rezam junto a procissão, seguram velas acesas nas mãos e como os turistas também tiram fotos e tudo se torna um evento na cidade.
Como saco vazio não para em pé, após a procissão vem o almoço. Casas que antes serviam almuerzos, deixam de servi-los para colocar como prato único a Fanesca, com acompanhamentos como purê de batatas e arroz de leite, com o cartaz na porta “Hoy exquisita fanesca” que já deixa claro que o antes sacrifício da semana santa de não comer carne se transformou num ritual prazeroso, mesmo sem carne. Alguém interpretou a parte que dizia que devia se fazer jejum de carne, como comer pratos deliciosos de peixe. Substanciosa e deliciosa a Fanesca completa o ritual da viernes santo em Quito, depois de um quase show que é a procissão, uma sopa quentinha para confortar do frio e começar o feriado.

Fotos depois.

sábado, 2 de abril de 2011

Manaus




Despeço-me de Belém com muita alegria e um pouco de desespero, nada foi como o esperado porque afinal não tem como imaginar o que “esse país chamado Pará” tem a oferecer, saio com a impressão de que podia ter visto mais, de que fiz pouco e que mais um ano aqui não seria suficiente, talvez só uma vida me satisfizesse. Mas saio também com a certeza de que o pouco que vi entrou na minha vida e mudou minha forma de ver o mundo. Entre tanta beleza natural, diversidade de ingredientes, a simpatia do povo e do cotidiano que me surpreendia a cada dia, só tenho a agradecer, e sem mais delongas. Continuo minha saga, agora rumo a Manaus, mas dessa vez por pouco tempo.
Cheguei a Manaus ás 5 horas da manhã de ontem, deixei minha mala no albergue e fui direto para o mercado municipal! Em busca de um café da manhã amazonense. Cheguei lá e na ansiedade acabei não notando a tapioca com lascas de tucumã, então tomei um café com leite e um bolo de milho, quando eu ia levantando a moça da barraquinha me ofereceu água e a água durou mais de uma hora! Nesse tempo fiquei vendo o movimento, sem cardápio a barraca servia pão com queijo qualho ou prato, presunto ou picadinho, tapioca simples, com manteiga ou com tucumã, farofa (farinha, arroz, carne de panela), salgados, café, leite, chocolate, sucos de graviola, acerola e maracujá, em duas cozinheiras. Serviam numa organização, rapidez e atendimento que milhares de restaurantes em São Paulo não conseguem com 10x mais funcionários. Fiquei admirada e apaixonada. Atrás da barraca, dentro de um mercado, um homem desossava 3 porcos inteiros (que para mim é demais), no meio do corredor, com a delicadeza e ao mesmo tempo agressividade que só um açougueiro pode ter .

Ileuva dos Santos Santos e sua barraca de Café da Manhã, e atrás o mercado Adolfo Lisboa.


 Dei uma volta na Manaus Moderna, uma feira coberta, gigantesca. O ver-o-peso tem variedade, mas a feira daqui é enorme, o que faz com que cada produto tenha mais valor. Vi transformarem fécula de mandioca em goma, vi quantidades enormes de pimentão, farinha, tucumã! Vi homens levando os sacos de mandioca com o dobro do peso deles, tratando-as como o respeito que deveriam ser tratadas uma dessas iguarias. Vi mais peixes na peixaria do que num especial de peixes no Animal Planet, vi o paraíso das carnes secas, quantidades perfeitas de carne e gordura numa só peça. Me apaixonei pela feira, pelo porto, por tudo! Depois almocei Peixe na Brasa ali perto do mercado. Voltei ao albergue para fazer check-in e tomar um banho, voltei também com cheiros, cores e sabores que nunca mais vou esquecer.